Trata-se de uma rede que nos permite processar micropagamentos de Bitcoin de forma instantânea e a um custo muito baixo.
Dessa forma, é possível dar “escalabilidade” à rede, um objetivo que, desde os primórdios do Bitcoin, até mesmo Satoshi Nakamoto destacava como um ideal.
O debate em torno da escalabilidade
É possível que você já tenha ouvido que a quantidade de transações que são realizadas por segundo na cadeia de blocos do Bitcoin não é muito alta. Tampouco se trata de transações imediatas: a frequência de emissão de um bloco de transações é de aproximadamente 10 minutos, portanto, uma operação fica registrada na blockchain somente a partir desse lapso.
A grande força do Bitcoin é a sua segurança e descentralização, e em inúmeras ocasiões foi debatida a viabilidade de ampliar o número de transações, seja incrementando a frequência de emissão de blocos, ou aumentando o tamanho de cada bloco. Em cada uma dessas propostas, era sacrificada, de uma forma ou de outra, uma certa quota de descentralização e segurança.
O tempo demonstrou que a comunidade do Bitcoin prioriza estas características essenciais da rede. No entanto, se buscamos que o Bitcoin se consolide como um meio de troca e possa ser usado em transações cotidianas, é evidente que devemos proporcionar-lhe escalabilidade.
Vamos a um caso prático:
Você se aproxima para pagar seu café e deseja utilizar Bitcoin da sua carteira. O café custa o equivalente em BTC a 3 dólares, enquanto que a comissão de rede a pagar nesse momento pela transação equivale a outros 3 dólares.
Esse intercâmbio já não é conveniente. Sem mencionar que o vendedor deverá esperar alguns minutos para se certificar de que o pagamento foi realizado.
A Lightning Network se propõe a solucionar isso.
Transações on-chain e off-chain
Vamos a propor outro caso de exemplo:
Ao transferir um imóvel, é necessário realizar trâmites e contar com documentos certificados por escrivães. Busca-se, dessa forma, conceder maior formalidade a essa transação. Mas você imagina precisar da assinatura de um tabelionato para abastecer o seu veículo? Ou para comprar produtos no supermercado?
Exato! Parece absurdo. Nem todas as transações exigem o mesmo nível de formalidade e registro.
Além disso, com uma maior quantidade de transações, uma rede como o Bitcoin poderia congestionar e o seu custo de utilização se elevar, prejudicando o seu fim inicial.
Poderíamos começar a pensar as transações que ocorrem na rede Bitcoin da mesma maneira. Há transações que serão registradas na blockchain. No entanto, com o uso crescente do Bitcoin para movimentos da vida cotidiana, pode ser conveniente hierarquizar as transações e preservar o uso da blockchain para consignar aquelas de maior importância.
Assim, contaremos com transações on-chain e transações off-chain, que ocorrerão fora da cadeia, embora mantenham todas as propriedades características de uma transação tradicional com Bitcoin.
Canais de pagamento
Como podemos realizar transações fora da cadeia sem deixar de aproveitar a segurança e descentralização da rede do Bitcoin? Uma resposta é dada pelos canais de pagamento.
Imaginemos um caso deste estilo:
Fernando e Maria realizam várias transações entre si durante um mesmo dia. Começam o dia com 1000 reais cada um em sua conta. Pela manhã, Fernando realiza dois envios de 200 para Maria, enquanto ela, pela tarde, transfere 150 e 350 para ele. Faz sentido registrar as quatro transações?
Os canais de pagamento permitem manter registro fora da blockchain das transações realizadas entre as partes, deixando assentado na cadeia unicamente o estado inicial e final do balanço desse canal.
No caso mencionado, poderia ser aberto um canal entre Fernando e Maria com 1000 reais de cada lado. Após os intercâmbios entre eles, o balanço do canal indicará que Fernando possui 1100 e Maria 900. As únicas transações que serão elevadas e registradas na blockchain serão a de abertura (aporte de fundos) e a de fechamento (consolidação) do canal.
Assim, é possível reduzir os custos de transação com operações que não necessariamente devem ficar armazenadas na rede do Bitcoin. Esses envios são creditados de maneira instantânea e a um custo quase nulo, o que permite escalar o uso do Bitcoin para intercâmbios da vida cotidiana.
Interconexão
Os canais de pagamento unicamente podem ser abertos entre duas partes. No entanto, o que confere o caráter de “rede” à Lightning Network é a possibilidade de conexão de uns usuários com outros, cada um com seus canais abertos.
Deste modo, é possível realizar envios entre partes que não têm um canal de pagamento aberto entre si. As transações serão “roteadas” e passarão por um e outro canal para encontrar o seu caminho até o receptor.
Treze anos depois de Satoshi Nakamoto publicar o whitepaper inicial do Bitcoin, não há dúvidas de que a primeira e mais popular criptomoeda funcionou como reserva de valor. Seu preço cresce ano a ano e atrai o interesse não só de pessoas, mas também de investidores institucionais e inclusive de estados.
O desenvolvimento da Lightning Network abre as portas para uma nova dimensão na história do Bitcoin: a sua massificação. A utilização de BTC em transações da vida cotidiana vem a somar novas propriedades às já mencionadas sobre o Bitcoin. Já não se trata apenas de um dinheiro seguro, portátil e descentralizado. Agora também constitui uma alternativa ágil e econômica para pagamentos e transferências de pequenos valores.
